A IDADE DE APRENDER
Encontrei, no final do ano, uma senhora sorridente em uma
das calçadas de São Paulo. Apresentou-se, desejou-me boas festas e falou de seu
orgulho de ser recém-formada. Julia, é esse o seu nome, formou-se aos 72 anos
de idade. É, agora, nutricionista. Falou-me de alimentação, de cuidados que
precisamos ter para que as crianças adquiram bons hábitos, do comer apressado,
da falta de tempo para prestar atenção às coisas e às pessoas. Disse-me que
quer muito escrever um livro. Um livro simples sobre o que aprendera. Foi além,
afirmando ser o escritor um generoso em essência. Porque partilha o que sabe.
Porque permite que outras pessoas participem de suas ideias e de seus
conceitos.
Eu a incentivei. E
quis saber o que a levara a cursar a faculdade. Ela falou-me de um programa de
rádio em que uma senhora que havia se formado aos 90 anos estava dando uma
entrevista, contando da sua emoção e dizendo que a idade de aprender, para ela,
era qualquer idade. Julia, na época com sessenta e poucos anos, sentiu-se uma
menina e decidiu concluir o ensino médio e cursar a faculdade. "Gostaria
de um dia encontrar essa senhora para lhe agradecer. Ela mudou minha vida com
seu depoimento". Conversamos mais um pouco. Ela falou, novamente, sobre o
primeiro livro que não quer demorar a escrever e a lançar. Porque quer publicar
outros. Tem muitos planos. Muita vontade de viver. Falou-me do marido que
morreu cedo. Da ausência de filhos, mas da presença de tantos amigos que ela
fizera na faculdade, que ela faz na vida. Conversamos mais um pouco,
caminhando. Fui bebendo de sua alegria e ouvindo seus tantos projetos que faziam
seus olhos de menina, de menina de 72 anos, brilhar.
Convidou-me para
uma festa naquela noite. Agradeci. "Festa”, repetiu ela, pronunciando
sorridente e com vagar essa palavra cheia de significados. E concluiu: "A
vida é uma festa". Concordei. Depende da nossa disposição. E, para isso,
não há idade.
Por: Gabriel
Chalita (fonte: Diário de S. Paulo) | Data: 09/01/2015
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