COMEÇO CONJECTURAL DA HISTÓRIA HUMANA

Entre os anos de 1784 e 1786, Immanuel Kant publicou uma série de escritos acerca da história do entendimento humano. “COMEÇO CONJECTURAL DA HISTÓRIA HUMANA” é um desses escritos que busca por meio da filosofia formatar um debate direto estruturado sobre ideias, buscando desenvolver uma história da humanidade, tendo como base uma fundamentação filosófica.


Nesse artigo Kant se utiliza da Bíblia, pois julga ser o mais antigo e respeitado documento que possuímos, servindo-se do Gênesis não como estrutura dogmática, mas em análise puramente racional, levando em consideração não a queda Adâmica, mas sim, o vê como um caminho em que a natureza humana luta em vão contra a sua condição existencial. Assim, Kant narra a passagem do homem rude, para um ser racional e social, situando a transição de tutela da natureza humana para o estado de liberdade.

Segundo Kant uma das primeiras histórias da liberdade com base nas disposições originárias à natureza humana é, portanto, diferente da história do progresso da liberdade, fundada apenas em documento. O que Kant procura apresentar não é o desenvolvimento histórico da liberdade, mas, a introdução e percepção do próprio homem mediante sua capacidade racional, de ser distinto, justamente por conta da liberdade, dos demais seres. “O primeiro homem podia, portanto, erguer-se e andar, podia falar (Gênesis; 2:20), ou melhor, discorrer, isto é, falar segundo um encadeamento de conceitos (Gênesis; 2:23); logo, podia pensar. Contudo, enquanto o homem inexperiente obedecia à voz da natureza, encontrava-se bem, mas logo a razão adentra o entendimento humano e começa a questioná-lo levando-o ao conhecimento das felicitudes e mazelas que a existência é capaz de oferecer.

Alguns pontos são indispensáveis por Kant a partir do momento que o homem perde a tutela natural e passa a viver pela razão, são eles: (1) a concupiscência, que pouco a pouco s converte em um exame de inclinações supérfluas antinaturais e passa a ser compreendida como voluptuosidade. Por ela o homem descobriu em si uma faculdade, um poder para realizar um fim, por si mesmo, sem está comprometido, como os outros animais, a um modo de vida único. (2) a renúncia, que conduziu o homem aos estímulos ideais e aos poucos o levou do apetite exclusivamente animal ao amor, do encantamento pelo belo e pela natureza. (3) A decência, causa das boas ações, do respeito aos demais e fundamento autêntico da vida social. (4) a expectativa do futuro, característica mais distinta do homem aos outros animais. Por ela o homem compreende não só o tempo presente, mas a necessidade de preparar-se para os fins mais longínquos. Porém, da mesma compreensão o homem conhece a angústia, as inquietações e preocupações, por causa das incertezas futuras.


Mediante todo processo, Kant nos convida a uma reflexão mais racional que teológica, situando o homem no tempo presente, conjecturando o passado e mediando o futuro, convidando a cada um a contribuir com a parte que lhe corresponda e segundo a medida de suas forças.

Referência:
KANT, Immanuel. Começo Conjectural da História Humana. Trad. Edmilson Menezes. São Paulo: Editora UNESP, 2010.

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