COMEÇO CONJECTURAL DA HISTÓRIA HUMANA

Nesse artigo Kant se utiliza da
Bíblia, pois julga ser o mais antigo e respeitado documento que possuímos, servindo-se
do Gênesis não como estrutura dogmática, mas em análise puramente racional,
levando em consideração não a queda Adâmica, mas sim, o vê como um caminho em
que a natureza humana luta em vão contra a sua condição existencial. Assim,
Kant narra a passagem do homem rude, para um ser racional e social, situando a
transição de tutela da natureza humana para o estado de liberdade.
Segundo Kant uma das primeiras
histórias da liberdade com base nas disposições originárias à natureza humana
é, portanto, diferente da história do progresso da liberdade, fundada apenas em
documento. O que Kant procura apresentar não é o desenvolvimento histórico da
liberdade, mas, a introdução e percepção do próprio homem mediante sua
capacidade racional, de ser distinto, justamente por conta da liberdade, dos
demais seres. “O primeiro homem podia, portanto, erguer-se e andar, podia falar
(Gênesis; 2:20), ou melhor, discorrer, isto é, falar segundo um encadeamento de
conceitos (Gênesis; 2:23); logo, podia pensar. Contudo, enquanto o homem
inexperiente obedecia à voz da natureza, encontrava-se bem, mas logo a razão
adentra o entendimento humano e começa a questioná-lo levando-o ao conhecimento
das felicitudes e mazelas que a existência é capaz de oferecer.
Alguns pontos são indispensáveis
por Kant a partir do momento que o homem perde a tutela natural e passa a viver
pela razão, são eles: (1) a concupiscência, que pouco a pouco s converte em um
exame de inclinações supérfluas antinaturais e passa a ser compreendida como voluptuosidade.
Por ela o homem descobriu em si uma faculdade, um poder para realizar um fim,
por si mesmo, sem está comprometido, como os outros animais, a um modo de vida
único. (2) a renúncia, que conduziu o homem aos estímulos ideais e aos poucos o
levou do apetite exclusivamente animal ao amor, do encantamento pelo belo e
pela natureza. (3) A decência, causa das boas ações, do respeito aos demais e
fundamento autêntico da vida social. (4) a expectativa do futuro, característica
mais distinta do homem aos outros animais. Por ela o homem compreende não só o
tempo presente, mas a necessidade de preparar-se para os fins mais longínquos.
Porém, da mesma compreensão o homem conhece a angústia, as inquietações e
preocupações, por causa das incertezas futuras.
Mediante todo processo, Kant nos
convida a uma reflexão mais racional que teológica, situando o homem no tempo
presente, conjecturando o passado e mediando o futuro, convidando a cada um a
contribuir com a parte que lhe corresponda e segundo a medida de suas forças.
Referência:
KANT, Immanuel. Começo Conjectural da História Humana. Trad. Edmilson Menezes. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
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