Arqueologia: Fóssil de primata sugere que humanos estiveram na Europa antes da África


 Um crânio parcial de um primata em um sítio arqueológico de 8,7 milhões de anos na Turquia desafiou a teoria há muito aceita de que os humanos vieram primeiro da África. Em vez disso, o fóssil sugere que a humanidade evoluiu na Europa antes de migrar para o continente africano entre 9 a 7 milhões de anos atrás. As conclusões fazem parte de um estudo publicado em 23 de agosto na revista Communications Biology. O crânio do primata recém-batizado de Anadoluvius turkae foi encontrado em 2015 na localidade fóssil de Çorakyerler, perto da cidade turca de Çankırı.

O fóssil está bem preservado e inclui a maior parte da estrutura facial e a parte frontal da caixa craniana. O objeto foi analisado por uma equipe internacional de pesquisadores liderada pelo professor David Begun da Universidade de Toronto, no Canadá, e pela professora Ayla Sevim Erol da Universidade de Ancara, na Turquia.

 O estudo mostrou que os fósseis de macacos do Mediterrâneo são diversos e fazem parte da primeira disposição conhecida dos primeiros Homininae – o grupo dos macacos africanos (chimpanzés, bonobos e gorilas), humanos e seus ancestrais fósseis. 

“As nossas descobertas sugerem ainda que os Homininae não só evoluíram na Europa Ocidental e Central, mas passaram mais de cinco milhões de anos evoluindo lá e espalhando-se pelo Mediterrâneo Oriental antes de eventualmente se dispersarem na África, provavelmente como consequência da mudança de ambientes e da diminuição das florestas”, explica Begun, em comunicado.

A integridade do fóssil do Anadoluvius turkae permitiu a equipe codificar atributos físicos em um programa projetado para calcular relações evolutivas. Begun detalha que, após a aplicação de uma imagem espalhada, o rosto do primata ficou quase completo e sua testa apresentou osso preservado até a coroa do crânio. “Os fósseis descritos anteriormente não têm esta grande parte da caixa cerebral”, ele observa. Pesando de 50 a 60 kg, o A.turkae era mesmo grande — até demais para um chimpanzé — e com tamanho próximo de uma fêmea de gorila (75 a 80 kg). Ele passava provavelmente muito tempo de sua vida no chão de florestas secas. De acordo com Sevim Erol, o primata viveu em ambientes abertos — ao contrário das matas onde vivem os grandes símios hoje e de modo mais parecido com os ambientes dos primeiros humanos que se acreditava viverem na África. “As mandíbulas poderosas e os dentes grandes e esmaltados sugerem uma dieta que inclui alimentos duros ou duros de fontes terrestres, como raízes e rizomas [tipos de caules]”, acrescenta a especialista.

 A fauna do final do Mioceno No final do Mioceno, o A.turkae conviveu com girafas, rinocerontes, antílopes, zebras, elefantes, porcos-espinhos, hienas e carnívoros semelhantes a leões. Segundo o estudo, essa comunidade ecológica se dispersou na África a partir do Mediterrâneo oriental, há cerca de oito milhões de anos.

Isso reforça a ideia de que os Homininae se originaram na Europa e se dispersaram na África juntamente com muitos outros mamíferos entre nove e sete milhões de anos atrás. Para confirmar sua hipótese, Begun afirma ser preciso encontrar mais fósseis europeus e africanos do período para estabelecer uma ligação entre os dois grupos.


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